O pacote de ajustes na previdência dos militares, coordenado pela equipe econômica liderada pelo ministro Fernando Haddad, marca mais um passo na estratégia do governo para equilibrar as contas públicas. As mudanças, que ainda precisam ser aprovadas pelo Congresso, visam uma maior convergência entre o regime previdenciário militar e o modelo do setor privado, embora preservem diferenças significativas. As principais mudanças propostas Idade mínima para aposentadoria Pela primeira vez, será estabelecida uma idade mínima de 55 anos para a aposentadoria dos integrantes das Forças Armadas. Hoje, basta comprovar 35 anos de serviço, independentemente da idade. Apesar de ser uma novidade no regime militar, a exigência ainda está abaixo dos 65 anos para homens e 62 anos para mulheres no INSS. Fim da “morte ficta” Uma das mudanças mais simbólicas é o encerramento da chamada “morte ficta”, que permite que familiares de militares expulsos recebam pensões como se o servidor estivesse morto. Criada em 1960, essa prática custa cerca de R$ 25 milhões anuais aos cofres públicos, segundo dados de 2024. Revisão das pensões O projeto busca limitar a transferência de pensões. Atualmente, os benefícios podem ser repassados entre familiares, como viúvas e filhas, em uma sequência que pode durar décadas. O novo modelo restringiria esses repasses, encerrando casos herdados de contribuições anteriores a 2001. Contribuição para o plano de saúde Outra medida é a equalização da contribuição para o fundo de saúde militar, fixando-a em 3,5% da remuneração para todos. Hoje, há discrepâncias nos valores cobrados. Impactos financeiros e desafios políticos Embora as mudanças prometam gerar economia a longo prazo, o impacto fiscal imediato será modesto. A transição gradual, necessária para preservar direitos adquiridos, faz com que as alterações levem anos para afetar o orçamento de forma significativa. Ainda assim, a equipe econômica vê as medidas como um passo estratégico para abrir caminho para ajustes em outras áreas, como no Poder Judiciário, que consome cerca de 1,5% do PIB. Politicamente, o governo enfrentará resistência, tanto entre os militares quanto no Congresso. Historicamente, mudanças nos benefícios das Forças Armadas são negociadas cuidadosamente devido ao peso institucional dos militares e ao risco de descontentamento interno. Comparações com o regime do INSS Apesar dos ajustes, o regime militar ainda mantém vantagens significativas em relação ao INSS. Os militares contribuem com 10,5% sobre o salário para aposentadoria integral, enquanto no INSS, a contribuição pode variar de 7,5% a 14%, mas não garante salário integral. Além disso, militares aposentados têm direito a reajustes automáticos sempre que os da ativa recebem promoções, um benefício inexistente para trabalhadores da iniciativa privada. Perspectivas e próximos passos As mudanças na previdência militar são vistas como uma oportunidade para o governo demonstrar compromisso com a sustentabilidade fiscal. No entanto, a aprovação do pacote dependerá de negociações intensas no Congresso e do apoio político necessário para superar resistências, especialmente entre as bancadas ligadas aos militares. Se aprovadas, as medidas não apenas trarão economia, mas também simbolizarão um marco no enfrentamento de privilégios historicamente protegidos.