Blog do Moisés Dutra
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Opinião: Ex-Senador Arthur Virgílio e a “rasgação de seda” ao Governador Tarcísio de Freitas

Em tempos de polarização política e disputas acirradas, manifestações públicas de apoio irrestrito chamam a atenção. Foi o caso do ex-senador Arthur Virgílio, que utilizou suas redes sociais para tecer elogios contundentes ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. Virgílio afirmou que quem critica o governador “tem algum problema na cabeça” e destacou qualidades como austeridade, seriedade e capacidade operacional, além de enaltecer seu combate às facções criminosas.

Embora seja natural no campo político reconhecer méritos de aliados, a declaração de Virgílio escancara um apoio que pode ser interpretado tanto como lealdade quanto como oportunismo. Seu tom, que desqualifica qualquer crítica ao governador, beira a idolatria, algo que, em um ambiente democrático, não costuma ser bem-visto. A política exige análise e debate, e não há governante imune a falhas ou acima de questionamentos.

Curiosamente, ao mesmo tempo em que elogia Tarcísio, Arthur Virgílio ignora os recentes e preocupantes acontecimentos envolvendo a Polícia Militar de São Paulo. Sob a gestão de Tarcísio, episódios de abuso de autoridade, denúncias de violação de direitos humanos e ações violentas atribuídas à PM paulista têm gerado indignação e preocupação por parte da sociedade civil. O governador, no entanto, tem sido acusado de fazer vista grossa a esses desmandos, praticamente endossando ou ignorando ações que atentam contra o Estado Democrático de Direito.

A postura de Arthur Virgílio ao omitir esses pontos em sua defesa ao governador reforça um padrão preocupante na política brasileira: a exaltação de lideranças à custa da relativização de questões fundamentais, como o respeito aos direitos humanos e à democracia. Enquanto Virgílio enaltece a “austeridade” e a “capacidade operacional” de Tarcísio, deixa de lado a responsabilidade de cobrar posturas mais firmes e éticas em relação à atuação das forças de segurança do estado.

É inegável que Tarcísio de Freitas tem ganhado notoriedade por sua postura técnica e gestão pragmática, especialmente em áreas como infraestrutura e segurança pública. Contudo, sua condescendência com abusos policiais e a ausência de respostas concretas a episódios graves enfraquecem o discurso de seriedade e comprometimento com a justiça.

Ao declarar-se “à disposição e solidário” ao governador, Arthur Virgílio talvez esteja sinalizando intenções políticas futuras ou apenas reforçando sua posição de alinhamento ideológico. De qualquer forma, o episódio abre espaço para refletirmos sobre a importância de apoiar lideranças sem abdicar de uma postura crítica, indispensável para o fortalecimento da democracia.

No fim, apoio cego não contribui para o aprimoramento das políticas públicas. Quem governa bem não precisa ser protegido de críticas, mas sim motivado por elas — especialmente quando os direitos fundamentais e a ordem democrática estão em jogo.

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