Nos últimos dias, a Argentina tem sido palco de intensos protestos contra as medidas de austeridade implementadas pelo presidente Javier Milei, especialmente os cortes nas aposentadorias. Milhares de manifestantes, incluindo aposentados e torcedores de futebol, reuniram-se em frente ao Congresso Nacional em Buenos Aires para expressar sua indignação. A manifestação, que começou de forma pacífica, rapidamente escalou para confrontos violentos quando a polícia utilizou caminhões de água, gás lacrimogêneo e balas de borracha para dispersar a multidão. O saldo foi de mais de 120 detidos e pelo menos 45 feridos, entre eles o fotógrafo Pablo Grillo, que sofreu uma fratura craniana ao ser atingido por um cartucho de gás lacrimogêneo.
A situação dos aposentados argentinos tem se deteriorado desde que Milei assumiu a presidência em dezembro de 2023. Suas políticas de austeridade, apelidadas de “a motosserra”, resultaram em cortes significativos nos serviços públicos, incluindo saúde e educação, além das aposentadorias. Essas medidas contribuíram para um aumento da pobreza, que atingiu 53% nos primeiros seis meses de seu governo, o maior índice desde 2003.
A economia argentina, que já enfrentava desafios, viu a inflação anual ultrapassar 230% sob as novas políticas econômicas. Embora o governo argumente que os cortes são necessários para estabilizar a economia, críticos apontam que as medidas têm aprofundado a crise social, afetando principalmente os setores mais vulneráveis da população.
A repressão violenta aos protestos gerou condenações de organizações de direitos humanos e aumentou a tensão política no país. A ministra de Segurança, Patricia Bullrich, anunciou que os detidos poderiam enfrentar até 20 anos de prisão sob uma nova lei antimáfia, medida vista por muitos como uma tentativa de intimidar os manifestantes e suprimir a dissidência.
Dentro do Congresso, a situação também é tensa. Durante uma sessão para discutir uma investigação relacionada ao escândalo da criptomoeda ‘$LIBRA’, ocorreram confrontos físicos entre deputados, levando à suspensão da sessão. Esse incidente reflete a crescente polarização política e a fragilidade das instituições democráticas argentinas sob o atual governo.
Enquanto isso, setores como o energético e o financeiro têm se beneficiado das políticas de desregulamentação e incentivos fiscais implementadas por Milei. Empresas desses setores registraram lucros significativos, contrastando com a situação de penúria enfrentada por grande parte da população.
A Argentina atravessa um período de profunda crise social e econômica, com um governo que, apesar de reduzir a inflação mensal, enfrenta críticas por aumentar a pobreza e a desigualdade. A resposta violenta às manifestações populares e a deterioração das condições de vida dos aposentados são indicativos de um país em busca de soluções para uma crise que parece longe do fim.