Por Moisés Dutra
A caravana da pré-candidata ao governo do Amazonas, Maria do Carmo Seffair (PL), mal começou a rodar o interior do estado, mas já carrega mais do que discursos de renovação: leva, literalmente, o ex-ministro e ex-prefeito de Manaus, Alfredo Nascimento, de carona. E essa carona é tudo, menos inocente.
Como já se especulava nos bastidores políticos, Alfredo traçou um plano calculado para voltar à cena política sem desembolsar um centavo a mais do que o necessário – e, até agora, tudo parece estar saindo conforme o script.
A equação é simples e engenhosa:
Maria do Carmo fornece a estrutura, Capitão Alberto Neto cede a base, e Alfredo se reposiciona.
O movimento mais audacioso – e talvez o mais simbólico da estratégia – foi empurrar Capitão Alberto Neto para a disputa ao Senado. Com isso, Alfredo Nascimento fica com o caminho livre para voltar à Câmara dos Deputados, onde já foi figura carimbada por décadas. A jogada, embora criticada por aliados mais ideológicos do PL, revela o quão pouco comprometido ele está com o fortalecimento da direita no estado. O foco é claro: sua própria sobrevivência política.
Importante lembrar que essa não é a primeira tentativa de retorno. Após sua derrocada política, Alfredo já tentou voltar ao poder diversas vezes: concorreu novamente à Câmara Federal, tentou uma vaga no Senado e até mesmo reassumir a Prefeitura de Manaus. Em todas essas investidas, foi rejeitado pelas urnas, sinal claro de que sua imagem pública perdeu fôlego. Ainda assim, ele não desistiu – e agora ensaia o retorno pela porta dos fundos, montando-se sobre a estrutura da candidatura de Maria do Carmo e as bases de apoio de Alberto Neto.
E ele tem mais uma carta na manga: o vereador Sargento Salazar, fiel aliado e aposta direta de Alfredo. Em entrevista recente, o próprio Alfredo afirmou que Salazar pode “arrastar dois ou três” com ele para a Câmara Federal. A fala, embora ambiciosa, revela confiança em uma base sólida e articulada. Para Alfredo, Salazar não é apenas um aliado — é peça-chave para maximizar votos e garantir a formação de bancada aliada dentro da legenda.
Além disso, como presidente estadual do Partido Liberal, Alfredo ainda tem à disposição o fundo eleitoral da legenda. Ou seja, ele usa a própria engrenagem que montou para Maria do Carmo como trampolim pessoal, enquanto ocupa os melhores espaços da campanha sem abrir mão do protagonismo. Tudo isso enquanto diz apoiar um projeto coletivo de direita no Amazonas.
A grande pergunta que paira no ar: até quando Maria do Carmo aceitará ser coadjuvante em seu próprio filme?
Ela tem carisma, bagagem e, mais importante, a boa vontade de quem a vê como alternativa real ao grupo que domina o cenário local há anos. Mas, se permitir que sua pré-campanha vire muleta de retorno para figuras já carimbadas, corre o risco de perder a identidade antes mesmo de a corrida começar de verdade.
Alfredo Nascimento, por sua vez, pode até estar conseguindo o que quer: ressuscitar do seu “túmulo político”. Mas o custo dessa ressurreição pode ser alto demais para o projeto do PL no estado – e para a própria imagem de renovação que Maria do Carmo tenta encarnar.
Em política, como se sabe, ninguém dá carona de graça.