O Brasil está dando um passo decisivo para democratizar o acesso à terapia celular CAR-T, uma das mais avançadas formas de tratamento contra o câncer, por meio de uma parceria estratégica com os países do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). A iniciativa faz parte de um esforço do governo federal para incorporar tecnologias de ponta ao Sistema Único de Saúde (SUS) e posicionar o país como referência em terapias celulares na América Latina.
O que é a terapia CAR-T?
A CAR-T é uma imunoterapia de alta complexidade que utiliza os próprios linfócitos T do paciente, modificados geneticamente em laboratório, para combater células cancerígenas de forma precisa. Ela tem mostrado resultados promissores em casos de leucemia e linfoma resistentes a outros tratamentos, com taxas de remissão que chegam a 80%.
Atualmente, o custo de uma dose de CAR-T importada pode ultrapassar R$ 2 milhões. Por isso, sua incorporação ao SUS ainda não era viável em larga escala.
Cooperação internacional
Durante a Cúpula do BRICS no Rio de Janeiro, em julho de 2025, o Brasil anunciou a criação de uma rede internacional de produção e inovação em terapias celulares, com foco na CAR-T. A proposta prevê:
Transferência de tecnologia entre os países membros;
Cooperação em pesquisa, desenvolvimento e produção de insumos;
Apoio do Novo Banco de Desenvolvimento (Banco do BRICS) para financiar infraestrutura laboratorial e hospitalar.
Segundo o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, a intenção é criar uma cadeia produtiva regional e reduzir drasticamente os custos de produção, viabilizando o tratamento em larga escala no Brasil e, futuramente, em outros países latino-americanos.
Produção nacional em andamento
A Fiocruz, em parceria com a organização norte-americana Caring Cross, já iniciou a implantação de uma linha de produção de células CAR-T e vetores virais em Bio-Manguinhos, com investimento de R$ 330 milhões. Ao mesmo tempo, o Hemocentro de Ribeirão Preto, a USP e o Instituto Butantan conduzem estudos clínicos avançados, com resultados promissores em pacientes brasileiros.
O objetivo é que, até o final de 2025, o Brasil tenha capacidade para produzir CAR-T em escala nacional, reduzindo o custo por tratamento para até R$ 170 mil — cerca de 10% do valor atual — e viabilizando sua oferta gratuita pelo SUS.
Desafios e perspectivas
Apesar dos avanços, o país ainda enfrenta desafios importantes:
Garantir padrões de qualidade e segurança na produção local;
Formar profissionais qualificados e equipar centros hospitalares com infraestrutura adequada;
Estruturar mecanismos de financiamento público que sustentem o tratamento no longo prazo.
Mesmo assim, a parceria com o BRICS representa uma oportunidade histórica de acelerar o acesso a tratamentos de ponta, reduzir a dependência de tecnologias estrangeiras e transformar o Brasil em um polo estratégico de inovação em saúde.