Blog do Moisés Dutra
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Investimentos chineses no Brasil disparam em meio à guerra comercial de Trump

O Brasil se consolidou como o segundo país que mais recebeu investimentos diretos da China no primeiro semestre de 2025, ficando atrás apenas da Indonésia. Segundo dados do China Global Investment Tracker, da American Enterprise Institute (AEI), empresas chinesas aplicaram US$ 22 bilhões no exterior entre janeiro e junho, sendo US$ 2,6 bilhões destinados à Indonésia e US$ 2,2 bilhões ao Brasil, um crescimento de 5% em relação ao mesmo período de 2024. Especialistas apontam que a riqueza em matérias-primas, a carência em infraestrutura e o amplo mercado consumidor devem manter o país em destaque.

No setor agrícola, a gigante Cofco concluiu a implantação de um terminal de granéis sólidos no Porto de Santos, com investimentos que somaram R$ 2,2 bilhões, incluindo a compra de 979 vagões e 23 locomotivas para acesso ferroviário. Na mineração, vários negócios estratégicos foram firmados: a MMG, subsidiária da China Minmetals, investiu até US$ 500 milhões em minas de níquel da Anglo American; a China Nonferrous adquiriu a Mineração Taboca por US$ 340 milhões; a Huaxin Cement comprou a Embu por US$ 186 milhões; e a Baiyin Nonferrous adquiriu a Mineração Vale Verde, produtora de cobre em Alagoas, por US$ 420 milhões. Esses aportes reforçam o interesse chinês em commodities estratégicas, como níquel, cobre, lítio e terras-raras, essenciais para tecnologia e transição energética.

Apesar da predominância em infraestrutura e matérias-primas, o perfil dos investimentos chineses no Brasil tem se diversificado. No setor de serviços e tecnologia, a 99 (controlada pela Didi) expandiu sua atuação para delivery; a Keeta, da Meituan, anunciou R$ 5,6 bilhões para entrar no mercado brasileiro; e no setor automotivo, a GWM inaugurou uma fábrica em Iracemápolis (SP), como parte de um plano de R$ 10 bilhões até 2032. Além disso, BYD e GAC ampliam a presença no mercado de carros elétricos, e a Geely abriu concessionária, adquirindo 26% da subsidiária brasileira da Renault.

Segundo especialistas, a guerra comercial e as restrições impostas pelos EUA aos investimentos chineses têm acelerado a presença da China em países emergentes, fortalecendo o comércio Sul-Sul. Em 2024, as exportações chinesas para o Sul Global chegaram a US$ 1,584 trilhão, mais de 50% acima das vendas combinadas para EUA e Europa Ocidental. Para Derek Scissors, pesquisador do AEI, “os investidores chineses permanecem intensamente interessados nas commodities do Brasil. Em troca, a China ajudará a construir infraestrutura de energia e outras”.

Apesar dos ganhos, especialistas alertam para os riscos do modelo atual do comércio bilateral, no qual o Brasil exporta matérias-primas e importa produtos manufaturados. Para Renato Baumann, pesquisador do Ipea, é essencial que o país adote políticas de monitoramento. “Um padrão produtivo chinês diferente do aceitável na Europa ou nos EUA pode complicar futuras exportações brasileiras. É preciso atenção, sobretudo em investimentos em infraestrutura e insumos estratégicos”, destacou. O Brasil deve se beneficiar da presença chinesa, mas a gestão desses aportes será decisiva para equilibrar crescimento econômico, segurança industrial e independência tecnológica.

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