O governador Cláudio Castro anunciou que o estado tem dez novas operações policiais programadas para os próximos meses, em modelo semelhante à ação recente nos complexos do Alemão e da Penha, que terminou com 121 mortos e 99 presos. As operações deverão ocorrer em favelas com forte presença do tráfico, como Rocinha, Cidade de Deus, Complexo da Maré e Complexo de Israel, na Zona Norte. Segundo o governo, as ações já contam com autorização judicial. Além disso, o plano prevê ocupações em comunidades da região de Jacarepaguá a partir de dezembro, com incursões diárias de cinco a dez grupos de policiais na Zona Sudoeste e na Baixada Fluminense.
O secretário de Segurança Pública, Victor dos Santos, afirmou que não divulgará as comunidades que serão alvo das próximas operações, mas confirmou que os inquéritos sobre os líderes das quadrilhas estão em estágio avançado. Questionado sobre a Rocinha, Santos destacou que a favela é considerada um dos principais entrepostos de drogas do Comando Vermelho (CV) e abriga criminosos de outros estados. De acordo com o secretário, cerca de 800 traficantes atuam na comunidade, divididos entre facções comandadas por John Wallace da Silva Viana, o “Johnny Bravo”, e Wilton Carlos Rabello Quintanilha, o “Abelha”, que controlam setores distintos da favela.
Santos explicou que essa divisão territorial dentro da Rocinha foi criada para “melhor organização” do tráfico, mas que o comando principal permanece com Johnny Bravo, responsável por administrar o “arrendamento” das áreas. Ele também ressaltou que o governo estadual e o Ministério da Justiça firmaram parceria para rastrear o fluxo financeiro das facções e restringir a entrada de armas pesadas no estado. Segundo o secretário, essa cooperação com o governo federal inclui o envio de analistas especializados para investigar a origem dos recursos que financiam o crime organizado no Rio.
A ocupação permanente das comunidades faz parte de uma determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), no âmbito da ADPF das Favelas, que exige do governo fluminense um plano de controle da letalidade policial e recuperação de territórios. O estado tem até 20 de dezembro para apresentar o documento. O plano preliminar prioriza Gardênia Azul, Muzema e Rio das Pedras, comunidades na região de Jacarepaguá historicamente ligadas à milícia e, mais recentemente, alvo de disputa com o tráfico.
Para coordenar a execução do projeto, a Secretaria de Segurança publicou uma resolução no Diário Oficial criando um Grupo de Trabalho de 60 dias (prorrogáveis por mais 60) responsável por elaborar e monitorar o plano de reocupação territorial. O grupo reúne 30 secretarias estaduais, além da Controladoria, da Procuradoria-Geral do Estado e do Gabinete de Segurança Institucional. A intenção do governo é ampliar a presença do Estado nas áreas retomadas, garantindo não apenas segurança, mas também serviços públicos e políticas sociais que evitem o retorno das facções.

