O pai de João Paulo Maciel, de 19 anos, morto durante uma ação da Polícia Militar no bairro Vila da Prata, em Manaus, afirmou que o filho era trabalhador e não tinha envolvimento com o tráfico de drogas. O caso aconteceu no fim de outubro e ganhou grande repercussão após vídeos gravados por moradores mostrarem o momento em que policiais abordam um suspeito e, minutos depois, deixam o local carregando um corpo. O Ministério Público do Amazonas (MP-AM) abriu investigação para apurar a suspeita de execução.
De acordo com o relato de Fernando Marques dos Santos, pai da vítima, João Paulo trabalhava com ele como ajudante de pedreiro desde os 12 anos. “Acordava às 5h da manhã para sair comigo para trabalhar. Ele e o irmão gêmeo sempre me ajudaram”, contou. Segundo Fernando, o jovem tinha o hábito de se reunir com amigos no local onde foi morto para jogar e conversar. “Nesse dia, ele tomou banho e disse: ‘Pai, vou ali jogar e já volto’. Nunca mais voltou”, lamentou.
A Polícia Militar informou que a ação foi conduzida por equipes da Ronda Ostensiva Cândido Mariano (Rocam) após denúncia anônima sobre a venda de drogas na região. Segundo a corporação, os policiais foram recebidos a tiros e revidaram o ataque. No entanto, moradores contestam a versão. Um vídeo gravado por uma testemunha mostra um homem sem camisa sendo revistado por policiais, aparentemente sem reagir, antes de ser levado para uma área lateral de uma residência — minutos depois, agentes aparecem carregando o corpo do rapaz.
A morte de João Paulo provocou revolta na comunidade. No dia seguinte, familiares e amigos realizaram um protesto na Avenida Brasil, na Zona Oeste de Manaus, pedindo justiça. A manifestação bloqueou a via e terminou com a chegada da PM, que usou balas de borracha para dispersar o grupo. “Mataram meu filho, ele já estava rendido. Levaram ele com vida e trouxeram sem vida. Eu quero justiça”, disse, emocionada, a mãe do jovem, Jeciara Maciel.
Em nota, a Polícia Militar informou que abriu procedimento interno para apurar a conduta dos agentes envolvidos e que, caso sejam comprovadas irregularidades, os responsáveis serão punidos. A corporação afirmou ainda que foram apreendidas munições, uma arma de fogo e porções de entorpecentes no local. Já a defesa da família contesta a versão oficial e classifica a ação policial como “violenta e desproporcional”, afirmando que João Paulo era inocente e foi executado. O caso segue sob investigação do Ministério Público e da Corregedoria da PM.

