O comandante do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), tenente-coronel Marcelo Corbage, contrariou a versão apresentada pelo governador Cláudio Castro (PL) sobre os confrontos da Megaoperação Contenção, realizados em 28 de outubro na Serra da Misericórdia, entre os complexos da Penha e do Alemão. Em depoimento ao Ministério Público do Rio (MPRJ), Corbage afirmou que a concentração do tiroteio na área de mata não foi parte de uma estratégia policial, mas resultado de uma emboscada preparada por traficantes do Comando Vermelho (CV).
Castro havia declarado, em coletiva na manhã da operação, que os confrontos haviam sido planejados para ocorrer na mata, com o objetivo de “encurralar” os criminosos e reduzir o impacto sobre a população. No entanto, Corbage disse que o planejamento inicial foi comprometido quando policiais civis teriam sido atraídos para uma armadilha. Segundo ele, imagens de drones mostraram criminosos avançando para a vegetação com armamento pesado e utilizando camuflagem, o que mudou completamente a dinâmica prevista.
Em seu depoimento, o comandante relatou que a “falta de resistência inicial” levou equipes da Polícia Civil a progredirem pelo terreno, sendo surpreendidas por forte ataque. Ele descreveu a reação dos criminosos como “agressiva e fora dos padrões conhecidos”, afirmando que, diferentemente de outras operações, os traficantes não fugiram após o primeiro confronto, mas sustentaram o fogo por tempo prolongado. A ofensiva, segundo Corbage, deixou de ser uma ação de cumprimento de mandados e se transformou em uma operação de resgate, o que explica a morte de dois policiais do Bope durante o socorro a agentes feridos.
A versão do comandante também confronta a explicação oficial sobre o chamado “Muro do Bope”, tática que, segundo o governo, consistia em uma linha de contenção montada na serra. Corbage afirmou que o Bope não havia se posicionado previamente na mata para surpreender criminosos e que o objetivo inicial da tropa era apenas garantir o isolamento entre comunidades, impedindo que grupos armados se reforçassem mutuamente. Ele destacou ainda que as equipes da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) e do Batalhão de Choque seriam responsáveis pelo avanço na região da Vacaria, mas que a situação levou o Bope a atuar além do previsto.
Outros depoimentos colhidos pelo MPRJ reforçam a tese de que houve uma emboscada montada pelo tráfico. O delegado André Luiz de Souza Neves, diretor do Departamento-Geral de Polícia Especializada, disse que não havia programação para ingressar na mata, mas que policiais avançaram ao serem surpreendidos por movimentação criminosa. Já o comandante da Core, delegado Fabrício Oliveira, declarou que os agentes civis foram submetidos a ataques intensos em poucos minutos, resultando em vários feridos e duas mortes por tiros na cabeça. Até a última atualização, o Palácio Guanabara ainda não havia se manifestado sobre o depoimento do comandante do Bope.

